- Outro Pesadelo
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#00 — Uma breve introdução
Uma rápida explicação do que você vai encontrar por aqui
Minha história com o horror começa como a de muitas pessoas que amam o gênero: na infância. Só que demorei a perceber isso — para ser sincera, por muito tempo pensei que nem gostasse do gênero. Sempre fui medrosa demais, sabe, do tipo que mal conseguia dormir quando assistia às lendas urbanas do programa do Gugu… mas sempre estava em frente à tevê nos domingos, pronta para mais uma história que me deixaria acordada a noite inteira. Na mesma época (ou talvez um pouco antes, as memórias se misturam um pouco), meus desenhos animados favoritos eram Coragem, o Cão Covarde e Scooby-Doo. Outra lembrança da infância é a de ficar fascinada por Tiffany, a boneca assassina com vestido de noiva e jaqueta de couro.
Mas gostar de terror? Claro que não, sou medrosa demais, eu dizia. Mesmo depois, na adolescência, quando desenvolvi uma leve obsessão por Garota Infernal, ainda não me via nesse lugar de fã do gênero. Todos esses personagens, histórias e lendas que eu adorava não passavam de coincidência… certo?
Certo?
Corta para anos depois, após várias conversas com amigos e leituras que me fizeram entender que não, o horror não pode nem deve ser resumido a medo. O horror é o desconforto, a tensão, a sensação de que há algo fora do lugar. Gerar medo pode sim ser um objetivo, mas nem sempre. E compreender isso virou uma chavinha no meu cérebro e me fez entender que, pois é, eu detesto sentir medo, mas amo horror. Por maior que fosse a minha obsessão por Jennifer e Needy (e quem vai me julgar por isso? 🤷🏾♀️), tinha algo mais ali. Uma inquietação, uma sensação de que aquele filme conversava com um pedacinho meu ainda inexplorado — e que eu podia explorar através de outras obras com monstros, assassinos mascarados, fantasmas e tudo mais que o horror tinha a oferecer.
Acontece que “explorar” é um processo constante, e quanto mais leio, assisto e estudo sobre horror, mais quero ler, assistir e estudar — e falar sobre isso. E foi desse desejo que surgiu a Outro Pesadelo, esta newsletter. A ideia é que ela seja um lugar para falar sobre o que li, assisti e estou refletindo sobre horror; um espaço para trazer o que venho estudando, sem os protocolos da academia, mas também sem negar o quanto gosto de ler livros teóricos e trabalhos acadêmicos e pensar como alguns campos das humanidades explicam nuances dos filmes do gênero. Quero analisar histórias e as convenções do gênero, pensar nas escolhas — estéticas, culturais e sociais — feitas por autores, roteiristas e diretores, e também falar de coisas como o medo, o desconforto, suas representações ao longo da história.
O nome da newsletter foi escolhido pensando nisso, inclusive. O horror, tanto na literatura quanto no cinema, é um gênero centenário e transgressor desde sua criação. Há tantas histórias e elementos que se expandem, evoluem e mudam de acordo com o contexto em que estão inseridos, porém podemos encontrar diversos elementos e tensionamentos tanto em obras contemporâneas quanto nas clássicas. Um pesadelo leva a outro, um sonho ininterrupto de monstros, sangue, desconforto, e eu amo (quase) todos eles. Inicialmente, os textos serão enviados uma vez por mês, sempre na última semana do mês (então o primeiro texto oficial será enviado daqui a duas semanas, e a partir de então, nos vemos todo fim de mês!).
Vale dizer que, ao longo deste texto, usei os termos horror e terror de forma intercambiável, mas eles têm algumas diferenças técnicas: enquanto o terror lida com a expectativa, o barulho na janela, a ameaça não revelada, o horror dá um rosto aos seus monstros e conta quem está debaixo da cama. Por aqui, os termos vão aparecer como sinônimos, por hábito, e para não repetir a mesma palavra tantas vezes.
Ah! Se você caiu de paraquedas aqui, deixa eu me apresentar melhor: sou Gih Alves, sou escritora e apaixonada por personagens com potencial destrutivo (para si mesmos e para os outros). Escrevi um romance de horror que será (re)lançado pela editora Seguinte ainda este ano e apresentei uma monografia sobre horror queer e Dani Clayton, a protagonista de A Maldição da Mansão Bly, no ano passado. Você pode me encontrar aqui no Twitter e no Instagram.
Até o próximo (e primeiro, oficialmente) pesadelo.qe
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